7 de mai. de 2012

Mulheres relatam ofensas racistas feitas por médico em Brasília

 A atendente de cinema Marina Serafim dos Reis, de 25 anos, relata ofensas de cunho discriminatório sofridas há uma semana, no cinema de um shopping de Brasília onde trabalha.
O acusado é o médico mineiro Heverton Octacílio de Campos Menezes, de 62 anos. A funcionária afirma que foi ofendida pelo médico depois de ter se recusado a atendê-lo na frente de outros clientes que estavam na fila. Alegando estar atrasado para a sessão, o homem iniciou os xingamentos, diz ela.
“Aí ele já começou a se exaltar, disse que eu estava sendo muito grossa com ele, porque eu era dessa cor, que eu estava no lugar errado, que meu lugar não era ali, lidando com gente, era lidando com animal. Deveria estar morando na África, cuidando de orangotangos”, relata Marina.
Marina procurou a polícia para denunciar o médico. Ele foi indiciado pelo crime de injúria discriminatória.
Outras duas vítimas do médico foram localizadas pela reportagem do Fantástico em Brasília. Elas preferiram não ser identificadas. Uma das mulheres contou que quando soube do caso de Marina pela televisão, reconheceu o homem como o mesmo que a insultou em um café, em 2009.
“Chegou um senhor ao meu lado, insultando os garçons, dizendo que nordestinos eram todos doentes e que nordestinos tinham que morrer. Eu falei: ‘senhor, eu sou nordestina, não sou doente não tenho problema nenhum. Ele insistiu, continuou falando e disse que sim, são todos doentes e deveria se fazer com os nordestinos, o que Hitler fez com os judeus’”, lembra ela.
A vítima contou que, na época, registrou ocorrência na delegacia, mas o médico não foi identificado. Ela explicou que, após vê-lo na televisão, decidiu voltar à delegacia. A investigação será reaberta.
A outra vítima do médico Campos Menezes é uma mulher que trabalhou como mesária na eleição de 2002. Ela também lembrou do ocorrido depois de vê-lo na televisão.
“Ele falou para mim: você está atrapalhando a fila porque isso aqui é uma republiqueta de bananas da qual você é a maior representante, sua negrinha. Ele queria me bater. Ele ficou fora de si”, conta a mulher.
A reportagem entrou em contato com Campos Menezes e com o advogado dele. O médico chegou a acertar uma entrevista, mas depois não atendeu mais.
Perfil
Heverton de Campos Menezes é solteiro e não tem filhos. Ele é médico endocrinologista, mas também atua como psicanalista, apesar de não ter sido aceito pela Sociedade de Psicanálise de Brasília. “Ele não é reconhecido como psicanalista”, alerta Luciano Lírio, presidente da Sociedade.
De acordo com Lírio, os psicanalistas passam por uma formação de pelo menos cinco anos, depois de terminar o curso de medicina ou psicologia. "A pessoa que tem uma expressão de violência e de agressividade contra uma pessoa é uma pessoa que não está em boas condições para aceitar um paciente”, avalia Luciano Lírio.
Investigação
O delegado Marco Antônio de Almeida, que investiga a ofensa contra a atendente do cinema, informou que nesta segunda-feira (7) vai encaminhar o inquérito contra o médico para a justiça. Segundo ele, já foram abertos cinco inquéritos contra Campos Menezes, nos últimos 18 anos, três por injúria e dois por ofensas raciais. Mas o médico nunca foi condenado.
“Eu não tenho dúvida que as provas que foram produzidas serão analisadas pelo Poder Judiciário e serão fortes o bastante para que ele seja, sim, processado e responsabilizado penalmente dessa vez”, avalia o delegado.
No depoimento que prestou na sexta-feira (4), ele se negou a responder às perguntas da polícia. O médico negou as acusações e leu uma carta pedindo desculpas públicas pelo lamentável episódio e mal-entendido. “Quero dirigi-las especialmente à senhorita Marina Serafim Reis e sua família”, diz trecho da carta.
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